Moda em tempos de ESG: sustentabilidade e responsabilidade social nas indústrias
Nos últimos anos, três letras têm ganhado destaque no mundo dos negócios: ESG. A sigla, que representa Environmental, Social and Governance (Ambiental, Social e Governança), deixou de ser uma tendência para se tornar um critério importante para avaliar o impacto e a responsabilidade das empresas. No setor da moda, no qual os efeitos ambientais e sociais são visíveis e urgentes, o ESG chegou para ficar.
O consumidor de moda está cada vez mais atento, buscando por marcas que se preocupam com o meio ambiente, que respeitam quem faz suas roupas e que sejam transparentes em relação à origem dos seus produtos. Essa mudança de comportamento abre espaço para um novo olhar sobre os desafios do setor.
Neste artigo, você vai entender como esses desafios podem ser grandes oportunidades para o seu negócio se tornar mais sustentável e conectado com o que o mundo precisa e com os que os consumidores estão buscando.

Os desafios ESG nas grandes indústrias da moda
A indústria da moda é uma das que mais enfrentam críticas quando o assunto é ESG. Os principais desafios estão concentrados nos três pilares que definem a sigla.
Sustentabilidade ambiental
Todos os anos, 92 milhões de toneladas de resíduos têxteis são produzidos globalmente, segundo a The Global Fashion Agenda. Isso é o equivalente a um caminhão de lixo cheio de roupas sendo incinerado ou enviado para um aterro sanitário a cada segundo.
Entre 2000 e 2015, a produção de roupas dobrou, enquanto a duração do uso de roupas diminuiu 36%, segundo a Fundação Ellen MacArthur.
De acordo com dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, a indústria da moda é responsável por 2 a 8% das emissões globais de gases de efeito estufa e 9% da poluição por microplásticos que chegam aos oceanos anualmente. Também consome 215 trilhões de litros de água, o equivalente a 86 milhões de piscinas olímpicas.
Estima-se que 15 mil produtos químicos sejam usados no processo de fabricação têxtil, segundo a Revista Internacional de Avaliação do Ciclo de Vida, e algumas dessas substâncias se acumulam no meio ambiente por décadas.
Responsabilidade social
De acordo com a Associação Brasileira do Vestuário (Abravest), 87% dos 1,3 milhão de profissionais que atuam com costura no Brasil são mulheres. Muitas delas trabalham em condições precárias, especialmente no mercado informal, sem acesso a direitos trabalhistas básicos.
Segundo dados do Dossiê Trabalho Escravo e Migração Internacional, de 2010 a 2023, 677 pessoas foram escravizadas no setor têxtil no Brasil, sendo 472 estrangeiros e 205 brasileiros.
Governança
O Índice de Transparência da Moda Brasil 2023, elaborado pelo Instituto Fashion Revolution, analisou 60 grandes marcas e varejistas de moda que operam no país. Na pesquisa, seis marcas pontuaram acima de 60% e 16 marcas zeraram a pontuação. Isso mostra que a grande maioria ainda é pouco transparente sobre temas sociais e ambientais importantes, como o pagamento de um salário capaz de cobrir os custos de vida básicos dos trabalhadores, as práticas de compra junto a seus fornecedores, a superprodução, os resíduos, o uso de água e produtos químicos, entre outras questões;
A prática de greenwashing, que consiste em promover ações ambientais falsas ou exageradas para melhorar a imagem da empresa, tem gerado preocupação entre investidores, consumidores e reguladores da indústria da moda.
Um estudo da Universidade Federal de Uberlândia destacou que, apesar do crescimento na adoção de métricas ESG por empresas brasileiras, ainda há desafios significativos. A falta de padronização nas métricas ESG dificulta a comparação e a avaliação do desempenho das empresas em relação à sustentabilidade e à responsabilidade social.

Oportunidades para pequenos e médios empreendedores
Ao contrário das grandes indústrias, os pequenos e médios empreendedores têm algo muito valioso: a flexibilidade. Isso significa ter mais facilidade para:
repensar processos produtivos;
fazer escolhas conscientes desde o início;
estar mais próximo dos clientes e ouvir suas demandas por produtos com propósito.
Mais do que uma exigência, adotar práticas ESG é um diferencial competitivo para quem está começando. A construção de uma marca transparente, com autenticidade e responsabilidade, gera conexão emocional com o público e fidelidade.
Lembre-se: ESG não é exclusividade das grandes empresas. Pelo contrário, é nos pequenos negócios que as transformações mais rápidas e consistentes podem acontecer.
Como aplicar práticas ESG em pequenas marcas de moda
Você não precisa de grandes investimentos ou certificações internacionais para começar. Veja a seguir algumas dicas para começar a aplicar práticas de ESG no seu negócio de moda.
E – Ambiental
Prefira tecidos reciclados, orgânicos ou de fornecedores locais.
Adote a produção sob demanda ou sob encomenda para evitar excesso de estoque e desperdício.
Reaproveite sobras de tecido e promova a economia circular dentro da sua empresa.
Avalie se os seus fornecedores adotam práticas sustentáveis.
S – Social
Mesmo com uma equipe pequena, ofereça boas condições de trabalho: ambiente seguro, carga horária justa, respeito e valorização.
Invista na capacitação e na valorização da mão de obra local e artesanal.
Envolva-se com causas da comunidade: projetos sociais, feiras, oficinas abertas, ações de inclusão.
G – Governança
Conte de forma clara para seus clientes como e onde suas peças são produzidas.
Tenha políticas internas simples e claras sobre ética, diversidade e relacionamento com parceiros.
Use indicadores fáceis de acompanhar: porcentagem de tecidos reaproveitados, horas de trabalho justo, número de fornecedores locais, quantidade de peças produzidas sob demanda etc.

Conte com o Sebrae/SC para liderar a mudança na moda
Os grandes desafios enfrentados pelas indústrias da moda deixam claro que mudanças profundas são necessárias. Mas, enquanto grandes empresas demoram para se adaptar, pequenos empreendedores têm a chance de liderar a transformação.
Se você tem um negócio de moda ou quer começar um, pense no ESG como um guia. Cada pequena escolha consciente já faz diferença. E lembre-se: você não está sozinho nessa jornada.
O Sebrae/SC tem um programa específico para o fortalecimento das empresas de moda no estado: o Moda Catarina. Esse programa inclui mentorias personalizadas, consultoria para inovação e muito mais para ajudar você a repensar processos, organizar sua empresa e implementar práticas sustentáveis com planejamento e apoio técnico.
Comece hoje mesmo a aplicar ações ESG no seu negócio! O futuro da moda depende das escolhas que você faz agora. Conte com o Sebrae/SC para transformar ideias em impacto positivo.