Como fazer a primeira exportação como ME ou EPP
Com o dólar valorizado e o interesse crescente em ampliar mercados, a exportação tem se tornado um caminho cada vez mais viável para micro e pequenas empresas brasileiras. Apesar disso, muitos empreendedores ainda acreditam que vender para fora do país exige uma grande estrutura, equipe especializada e investimentos altos.
A verdade é que existem alternativas simples para quem está dando os primeiros passos, que vão desde serviços dos Correios, como o Exporta Fácil, até a participação em marketplaces globais. Com planejamento e informações corretas, é possível começar aos poucos, testar mercados e aprender com cada envio.
Neste artigo, você verá os principais caminhos para realizar sua primeira exportação, como calcular custos, evitar os erros mais comuns e escolher o mercado certo para seu negócio.
Três caminhos simples para começar
Exportar não precisa ser complicado. Hoje, existem três rotas práticas que permitem que uma microempresa ou uma empresa de pequeno porte acesse clientes fora do Brasil sem precisar montar uma operação complexa de comércio exterior. Detalhamos cada um desses caminhos a seguir.
1. Exporta Fácil (Correios)
Uma das formas mais acessíveis de dar o primeiro passo em exportações é usando o Exporta Fácil, serviço dos Correios criado para facilitar a vida dos pequenos negócios. Esse serviço funciona como uma ponte entre sua empresa e o mercado internacional, eliminando várias burocracias tradicionais.
Como funciona na prática:
Você preenche um formulário com as informações da mercadoria, anexa a Nota Fiscal e a Commercial Invoice (fatura comercial) e entrega o pacote nos Correios.
Os Correios registram a Declaração Única de Exportação (DU-E) no Siscomex, deixando sua operação regularizada sem que você precise solicitar habilitação RADAR (registro da Receita Federal para empresas realizarem importação e exportação no Brasil) ou contratar um despachante aduaneiro.
O produto é despachado pela rede postal internacional.
Esse serviço é indicado para envios de até US$ 50 mil por Commercial Invoice, com limite de peso e dimensões de acordo com cada destino. Dessa forma, é mais indicado para o envio de produtos de menor valor agregado ou em escala reduzida, ou seja, é uma boa opção para começar a testar a demanda no exterior.
Além disso, é possível enviar amostras de produtos, desde que seja emitida a nota fiscal de remessa para exportação. No entanto, vale destacar que alguns itens não podem ser exportados dessa forma, como:
medicamentos;
alimentos perecíveis;
artigos que tenham restrições sanitárias ou de segurança.
Por isso, antes de cada envio, sempre consulte a lista oficial de restrições do Exporta Fácil no portal oficial dos Correios.
2. DU-E simplificada no Portal Único
Outra etapa importante no processo de exportação é a Declaração Única de Exportação (DU-E), documento eletrônico que oficializa a saída da mercadoria do Brasil. Para pequenas operações, como as feitas pelos Correios, essa obrigação já é cumprida automaticamente pelo Exporta Fácil.
Mas se a sua empresa começar a crescer, enviando volumes maiores ou utilizando transportadoras diferentes, será necessário preencher a DU-E diretamente no Portal Único de Comércio Exterior. Apesar de parecer burocrático, o processo está cada vez mais simples.
Quando a DU-E é exigida diretamente pelo exportador?
Em envios acima de US$ 50 mil.
Quando a modalidade escolhida exige um controle aduaneiro maior.
O que você precisa ter em mãos?
A Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM), que classifica corretamente seu produto.
A origem da mercadoria.
O Incoterm (condição de venda), que define responsabilidades entre exportador e comprador.
Muitos erros acontecem justamente na escolha incorreta do NCM ou na descrição incompleta da mercadoria, o que pode gerar atrasos e custos extras. Por isso, revise esses dados e, caso perceba algum erro depois do envio, o sistema permite fazer a retificação ou o cancelamento da declaração.
3. Marketplaces globais (venda indireta)
Para quem quer começar de maneira ainda mais simples, os marketplaces internacionais são uma excelente alternativa. Plataformas como Amazon, eBay e Etsy já oferecem toda a estrutura de vitrine, pagamento e reputação global, permitindo que o seu negócio teste a aceitação de produtos em diferentes países.
A grande vantagem dessa alternativa é a visibilidade: você não precisa investir em um site internacional ou em marketing pesado para ser encontrado. Além disso, muitas vezes o próprio marketplace oferece soluções de logística integrada, facilitando envios internacionais.
Por outro lado, existem pontos de atenção. As plataformas cobram taxas de comissão e logística, exigem prazos rígidos de entrega e têm políticas de devolução que devem ser seguidas à risca. Isso pode impactar sua margem de lucro se não for bem planejado.
O ideal é começar escolhendo um marketplace alinhado ao seu nicho e à sua estratégia de preço. Consulte o Mapa Sebrae de Marketplaces para entender qual plataforma faz mais sentido para seu negócio.

Custos, impostos e formação de preço
Uma das principais dúvidas de quem pensa em exportar é: como precificar para não perder dinheiro? O desafio está em considerar não apenas o custo de produção, mas também os encargos adicionais que acompanham cada operação.
Entre esses custos, estão:
frete internacional e seguro;
tarifas cobradas pelos marketplaces (se for o caso);
impostos no país de destino;
variação cambial entre real e dólar.
Imagine um produto que custa US$ 30. Ao incluir frete, taxas e impostos, o preço final para o cliente pode chegar a US$ 45. Se o cálculo não for bem-feito, sua margem de lucro pode ser comprometida.
Por isso, é importante trabalhar com cenários de precificação em dólar e considerar o uso de Incoterms (condições de venda) como o Delivered Duty Paid (DDP), em que o exportador assume os tributos do destino, trazendo mais previsibilidade para o comprador.
Operação na prática
Mesmo com processos simplificados, alguns erros operacionais podem comprometer a rentabilidade da exportação, como:
usar NCM incorreta, gerando multas e atrasos;
ignorar custos ocultos, como armazenagem ou devoluções;
prever mal os prazos de entrega;
descrever o produto de forma vaga, dificultando a liberação na aduana;
usar embalagens inadequadas que não resistem ao transporte internacional.
Por isso, depois de escolher o caminho de exportação, é preciso ficar atento à parte operacional. Aqui, cada detalhe faz diferença na experiência do cliente e na reputação da sua empresa.
Preparamos um checklist para ajudar você a evitar erros e não esquecer nenhuma etapa operacional importante.
Cadastro e habilitação: registre sua empresa no Siscomex, mesmo que seja na modalidade simplificada.
DU-E e documentação: confira sempre NCM, origem e descrição.
Postagem: use os Correios (Exporta Fácil) ou uma transportadora habilitada.
Embalagem: pense em resistência, peso e tamanho na hora de escolher os pacotes, já que qualquer falha pode gerar devoluções.
Rotulagem: inclua informações em inglês e, se possível, no idioma do país de destino.
Seguro: considere contratar um seguro para proteger seu negócio contra extravios e avarias nos produtos.
Logística reversa internacional e atendimento ao cliente
Exportar não termina na entrega. Também é preciso pensar nos casos de devolução ou troca, que podem acontecer em qualquer mercado.
A logística reversa internacional pode ser custosa, por isso é essencial comunicar prazos e políticas com clareza antes da compra. Uma boa opção, escolhida por muitos empreendedores, é resolver essas situações com reembolsos parciais ou vouchers, evitando custos altos de transporte de volta.
O mais importante é a transparência com o cliente: informe prazos de entrega realistas, explique sobre possíveis tributos locais e esteja preparado para responder dúvidas em outros idiomas.
Como escolher o primeiro mercado
Nem todo país será o ideal para sua primeira exportação. O mercado estadunidense, por exemplo, costuma atrair muitas empresas, mas em 2025 sofreu o impacto do chamado “tarifaço”, que aumentou custos para determinados produtos brasileiros.
Por isso, vale a pena avaliar mercados alternativos com tarifas menores, proximidade logística e boa aceitação para o seu segmento. O Sebrae/SC, por meio do Observatório de Negócios, disponibiliza relatórios que ajudam a identificar riscos e oportunidades em diferentes regiões.

Comece a exportar com o apoio do Sebrae
Como você viu, a exportação está ao alcance de qualquer ME ou EPP. Com ferramentas como o Exporta Fácil, a DU-E simplificada e os marketplaces internacionais, é possível começar aos poucos e aprender com a prática.
Mais do que vender em dólar, exportar significa abrir portas para a inovação, aumentar a competitividade e diversificar seu negócio.
Antes de enviar sua primeira remessa, agende uma consultoria Go To Market do Sebrae/SC para validar NCM, DU-E e precificação. Esse apoio pode ser o diferencial entre uma experiência frustrante e uma trajetória de sucesso no comércio internacional.