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26 jun. 2023

Como transformar reciclagem em negócio?

Você já parou para pensar que o lixo pode ser uma grande oportunidade de negócio? As pessoas estão mais preocupadas com a sustentabilidade e passaram a olhar o mundo com mais cuidado, mudando hábitos e comportamentos de consumo. É a era de uma nova ótica com base no conceito de economia circular, introduzindo uma perspectiva de reintrodução dos resíduos nos processos produtivos.

→ No Brasil, são geradas 80 milhões de toneladas de resíduos por ano. Infelizmente somente 4% deles passam hoje pelo processo de reciclagem (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais), mas, com o crescimento da conscientização sobre a importância de reciclar e reutilizar após a pandemia, dentro da reciclagem há diversas formas de empreender.

Há como transformar pneus em solas de sapato, tapetes para automóveis, asfalto. Há como reaproveitar peças de roupas em brechós ou na criação de peças novas. Há como transformar vidro, plástico e outros resíduos em arte.

Neste artigo, vamos apresentar algumas formas de empreender nesta área. Mas, antes de dar dicas sobre como transformar reciclagem em negócio, você precisa conhecer alguns conceitos. Confira:

O que é reciclagem e quais as vantagens?

Reciclagem é o processo de transformação dos resíduos sólidos em insumos ou novos produtos. Significa reaproveitar materiais descartados e diminuir a quantidade de resíduos provenientes dos produtos consumidos pelo homem.

A reciclagem traz diversos benefícios para o meio ambiente e para a sociedade, como: diminuição da contaminação do solo, diminuição do uso de recursos naturais e dos impactos no meio ambiente, maior consciência ambiental, geração de emprego e renda.

Reciclagem e coleta seletiva

A coleta seletiva é o primeiro passo para a reciclagem e é por meio dela que são separados os resíduos recicláveis dos não recicláveis. Desta forma, a reciclagem e a coleta seletiva estão diretamente relacionadas, já que a coleta seletiva é o que permite que os materiais recicláveis possam ser encaminhados para a empresa recicladora e transformados em novos produtos.

O que é logística reversa e o que tem a ver com reciclagem?

A logística reversa consiste no retorno do resíduo ao fabricante do produto, para reaproveitamento ou destinação final adequada, com o objetivo de reduzir o impacto ambiental causado pelo descarte inadequado desses itens.

A logística reversa tem uma relação direta com a reciclagem, pois é uma das etapas desse processo. Nela, uma embalagem de um produto é devolvido ao ciclo produtivo, e pode ser reutilizada, reparada, recondicionada ou reciclada.

Conforme a Lei Federal 12.305/2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), a logística reversa é caracterizada “por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada” (Art. 3°, inc. XII).

Diante disso, as empresas têm a obrigação de instituir procedimentos e meios de viabilizar a coleta de resíduos sólidos para reaproveitamento ou descarte adequado. Além disso, a logística reversa pode também facilitar a troca ou devolução de produtos. Nesse caso, a empresa precisa ter estrutura adequada para tais demandas, calcular os custos desse procedimento e ter condições de fazer o rastreamento do item.

Exemplos de produtos que se enquadram na logística reversa: embalagens de agrotóxicos, Óleo lubrificante usado ou contaminado (Oluc), pilhas e baterias, lâmpadas fluorescentes, pneus inservíveis, entre outros.

Entendendo o conceito de economia circular

A economia circular busca inverter a lógica dos sistemas lineares de produção (tem um ciclo com único destino, focado em fabricação, venda, uso e descarte das peças) que se encerram no descarte do produto após o consumo. O modelo circular propõe que os produtos não sejam descartados, mas reinseridos no processo produtivo após o uso, vinculando o desenvolvimento econômico a um uso mais racional de recursos naturais. Isso é realizado com novos modelos de negócios, revisão dos processos de produção industrial, além da ênfase no uso de matérias-primas mais duráveis, recicláveis e renováveis.

Agora que você conheceu alguns conceitos importantes, vamos apresentar algumas oportunidades que a reciclagem pode proporcionar para o mundo do empreendedorismo. Confira:

Ideias de negócios no mercado de reciclagem

1. Coleta e separação de materiais recicláveis

Criar uma empresa de coleta e separação de materiais recicláveis pode ser uma ótima ideia de negócio. Há possibilidade de trabalhar com empresas, condomínios, escolas, ou firmar parcerias através de contratos de licitação com prefeituras.

Geralmente empresas que reutilizam resíduos preferem terceirizar os serviços de coleta seletiva e seleção, então, uma distribuidora de lixo reciclável, fica responsável pela coleta, recebimento e seleção do lixo, para depois vender para essas empresas de reciclagem.

Neste tipo de negócio há muitas possibilidades. Como adquirir um veículo para coleta pode não ser tão acessível para o início do negócio, talvez a terceirização dessa etapa possa ser bem-vinda. Da mesma forma, é possível criar parceria com catadores e comprar os resíduos que eles recolherem, separá-los, limpá-los e vendê-los por um preço maior. → Mas, é importante lembrar que para qualquer decisão, é necessário antes realizar um bom planejamento e avaliar a viabilidade financeira.

2. Reciclagem de Resíduos (plástico, vidro, metal, papel)

Por conta de toda conscientização ambiental e pelo potencial de crescimento que ela representa, o aumento na demanda por serviços de reciclagem de resíduos se torna uma ótima oportunidade de empreender.

A primeira decisão a ser tomada neste tipo de empreendimento, é determinar quais materiais serão trabalhados e reciclados (plásticos, vidros, latas e componentes metálicos, papéis, entulhos e detritos, entre outros). Esse é o passo inicial para saber de quantas pessoas a equipe deve ser composta, quantos veículos, qual o espaço do galpão, a quantidade e modelos de maquinários essenciais para lidar com o processo, licenciamentos e alvarás de funcionamento necessários, entre outros.

Se a reciclagem for realizada de maneira eficiente e com a escolha certa dos materiais, há possibilidade não só de vender a matéria-prima reciclada, como produtos feitos a partir de materiais reciclados.

→ Destacamos no tópico anterior a distribuição e coleta de lixo como um serviço isolado, mas é claro que, se o negócio tiver as condições necessárias, poderá exercer a reciclagem também, englobando todas as etapas: coleta, recebimento, seleção e reciclagem.

3. Reciclagem de resíduo eletrônico

O Brasil é o quinto maior produtor de resíduo eletrônico do mundo e montar uma empresa de reciclagem deste tipo de material, também pode ser uma boa oportunidade.

Neste tipo de negócio, a empresa é responsável por coletar (caso ache viável), selecionar, triturar e dar o destino correto a estes materiais, ou, transformar o resíduo em equipamentos diversos.

Alguns dos equipamentos que entram na classificação deste tipo de resíduo são: placas de computadores, processadores de celular, tablets e smartphones, monitores de computador, placas de monitor de TV, baterias em geral, celulares inteiros, entre outros.

A responsabilidade neste serviço é muito grande, por conta dos metais presentes na maioria dos produtos reciclados, então, o cuidado precisa ser redobrado ao criar uma empresa nessa área, para seguir todas as normas e licenças e evitar danos à saúde das pessoas e ao meio ambiente.

4. Transformar resíduo em artesanato

Também é possível transformar o resíduo em artesanato. Uma forma mais barata de iniciar uma empresa.

A utilização de materiais recicláveis e naturais na produção de brinquedos, artigos de decoração, moda, utensílios e móveis domésticos é a essência do artesanato. Além do aproveitamento estético e prático de diferentes objetos que seriam descartadas na natureza, o artesanato sustentável pode ser uma fonte de renda e realização pessoal.

No segmento específico de artesanato sustentável há várias oportunidades de negócios, uma vez que os empreendedores podem atuar junto com organizações ambientais, projetos sustentáveis e em estabelecimentos com foco em produtos naturais.

Essa pode ser uma oportunidade para o ano todo, já que além das produções atemporais, é possível criar decorações para datas específicas, como Natal e Páscoa.

Ideias de artesanato: guirlandas, vasos de vidro e de garrafas pet, prateleiras rústicas, luminárias, relógios de parede com componentes plásticos coloridos, porta-retratos com tampinhas de garrafas, enfeite de jardim, porta-objetos, entre outros.

Como vender: há possibilidade de vender os produtos na rua, em tendas, em lojas locais ou eventos culturais, além de utilizar diferentes canais no meio digital para realizar negócios.

5. Empreender com economia circular

Os clientes também buscam economia e sustentabilidade, sem renunciar às tendências de moda e de adquirir produtos de qualidade. A moda com propósito pode agradar e muito os clientes. Apontada como tendência, a prática faz parte dos novos hábitos de comportamento dos consumidores, que prezam cada vez mais por adquirirem produtos mais sustentáveis.

Os brechós se encaixam perfeitamente nesse nicho de mercado, com o reaproveitamento de peças de roupas e a possibilidade de customização. Além da moda com propósito, conceitos e práticas de economia circular têm se tornado mais populares e atraentes para os brechós. Isso porque elas promovem o uso e a recuperação inteligente dos recursos naturais, no caso, das roupas.

Além da moda, é possível trabalhar com:

Reutilização de outros produtos: a empresa pode atuar na coleta de produtos descartadas pelos clientes e reutilizá-los como insumos para novos produtos. Por exemplo, há como transformar pneus velhos em móveis, sacos de café em bolsas e roupas em mantas.

Serviços de reparação: há também como reparar produtos, criando uma oficina de reparação onde as pessoas possam trazer os objetos danificados para serem consertados.

Aluguel de roupas e produtos: esse modelo de negócio permite que as pessoas aluguem produtos que normalmente só usariam algumas vezes. A empresa mantém a propriedade destes produtos, evita o descarte antecipado deles, bem como a responsabilidade pela destinação correta quando não tiver mais uso. Aqui pode se optar por aluguel de roupas, equipamentos esportivos, de filmagens (GoPro, por exemplo), decorações de eventos, entre outros.

Reciclagem de óleo de cozinha: algumas empresas transformam o óleo de cozinha em biodiesel por meio de um processo chamado “transesterificação”. Também há a possibilidade de transformá-lo em outros produtos, como sabão.

Reciclagem de lâmpadas: os vidros são reutilizados na fabricação de outros produtos e o fósforo, presente em sua composição, também pode ser utilizado na indústria civil.

Reutilização de Poliestireno Expandido (EPS): conhecido como isopor, pode ser transformado em peças de decoração ou reutilizado em processos industriais, como fabricação de concreto.

6. Compostagem de resíduos orgânicos

Um mercado que avança muito no Brasil é o de compostagem de resíduos orgânicos provenientes tanto de residências quanto de estabelecimentos comerciais do setor de bares e restaurantes. O potencial de um negócio como este é significativo sob os pontos de vistas de retorno econômico, redução de emissão de gases de efeito estufa e desvio de resíduos que seriam encaminhados diretamente a um aterro sanitário.

O modelo de negócio pode ser estruturado em uma lógica de "clube de assinatura" com coletas periódicas (como por exemplo semanal, quinzenal ou mensal) de resíduo. O retorno econômico pode advir destas assinaturas, da posterior comercialização do adubo orgânico e biofertilizante produzidos, além de potencial de geração e comercialização de Créditos de Carbono.

Os principais desafios para a implementação deste tipo de negócio é ter um local apropriado para a instalação da Usina de Compostagem, obter as licenças ambientais necessárias, estruturar uma logística de coleta e beneficiamento dos resíduos e de ter um procedimento bem estruturado de fidelização de uma carteira fixa de clientes que propicie a viabilidade econômica.


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